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segunda-feira, 8 de abril de 2013

3º argumento: O perfeito não pode produzir o imperfeito

Estou plenamente convencido de que se eu fizer a um religioso a pergunta: “Pode o imperfeito produzir o perfeito?”, ele responderia sem vacilar: — Não, o imperfeito não pode produzir o perfeito!
Pelas mesmas razões, e com a mesma força de exatidão, eu posso afirmar — O perfeito não pode produzir o imperfeito!
Mais: entre o perfeito e o imperfeito não há somente uma diferença de grau, de quantidade, mas uma diferença de qualidade, de natureza, uma oposição essencial, fundamental, irredutível, absoluta.
E mais ainda: entre o perfeito e o imperfeito não há somente um fosso, mais ou menos largo e profundo, mas um abismo tão vasto e tão estonteante, que ninguém o pode franquear ou entulhar. O perfeito é o absoluto, o imperfeito o relativo. Em presença do perfeito que é tudo, o relativo, o contingente não é nada; em presença do perfeito, o relativo não tem valor, não existe. E nem o talento de um matemático e nem o gênio de um filósofo serão capazes de estabelecer uma relação entre o relativo e o absoluto: a fortiori sustentamos a impossibilidade de evidenciar, neste caso, a rigorosa concomitância que deve necessariamente unir a Causa ao Efeito.
É, portanto, impossível que o perfeito haja determinando o imperfeito.
Além disso, há uma relação direta, fatal e até matemática entre uma obra e seu autor: tanto vale a obra quanto vale o autor, tanto vale o autor quanto vale a obra. E pela obra que se conhece o autor, como é pelo fruto que se conhece a árvore.
Se eu examino um texto mal redigido, em que se abundam os erros de ortografa e as frases são mal construídas, o estilo é pobre e frouxo, as ideias raras e banais, e os conhecimentos inexatos, eu sou incapaz de atribuir este péssimo escrito a um burilador de frases, a um dos mestres da literatura.
Se observo um desenho malfeito, em que as linhas estão mal traçadas, violadas as regras do perspectiva e da proporção, jamais me acudirá o pensamento de atribuir este esboço rudimentar a um professor, a um grande mestre, a um grande artista. Bem à menor hesitação direi: isto é obra de um aprendiz, de uma criança, certo de que pela obra se conhece o artista.
Ora, a natureza é bela, o Universo é grandioso. E eu admiro apaixonadamente — tanto o que mais admiro — os esplendores e as magnificências que nos oferecem estes espetáculos incessantes. Mas, por muito entusiasmado que eu seja das belezas naturais, e por grande que seja a homenagem que eu lhes tribute, não me atrevo o afirmar que o Universo é uma obra sem defeitos, irrepreensível, perfeita. E não acredito que haja alguém que me desminta.
Sim, o Universo é uma obra imperfeita.
Consequentemente, digo: há sempre, entre uma obra e seu autor, uma relação rigorosa, íntima, matemática. Ora, se o Universo é uma obra imperfeita, o autor desta obra não pode ser senão imperfeito.
Esse silogismo leva-me a admitir a imperfeição de Deus, e por consequência a negá-lo.
Mas eu posso ainda raciocinar assim: ou não é Deus o autor do Universo (exprimo desta forma a minha convicção), ou o é, na suposição dos religiosos. Neste caso, sendo o universo uma obra imperfeita, vosso Deus, ó crente, é também imperfeito.
Silogismo ou dilema, a conclusão do raciocínio é esta: o perfeito não pode determinar o imperfeito.