São muitíssimos — formam legiões — os indivíduos que, apesar de tudo, se obstinam em crer. Concebo que, a rigor, se possa crer na existência de um criador perfeito, como também concebo que se possa crer na existência de um governador necessário. Mas, o que me parece impossível é que, ao mesmo tempo, se possa crer racionalmente num e noutro, porque estes dois seres perfeitos se excluem categoricamente: afirmar um é negar o outro; proclamar a perfeição do primeiro é confessar a inutilidade do segundo; sustentar a necessidade do segundo é negar a perfeição do primeiro.
Por outras palavras: pode-se crer na perfeição ou na necessidade do outro; mas o que não tem a menor sombra de lógica é crer na perfeição dos dois. É preciso, pois, escolher qualquer deles.
Se o Universo criado por Deus tivesse sido uma obra perfeita; se, no seu conjunto, como nos seus pormenores, esta obra não apresentasse nenhum defeito; se o mecanismo desta criação gigantesca fosse irrepreensível; se a sua perfeição fosse de modo que a ninguém despertasse a menor suspeita de qualquer desarranjo ou de qualquer avaria; se, enfim, a obra fosse digna deste operário genial, deste artista incomparável, desse construtor fantástico a que chamam Deus, a necessidade de um governador nunca se teria sentido.
É que é lógico supor que, uma vez a formidável máquina fosse posta em movimento, nada mais haveria a fazer do que abandoná-la a si própria, visto que os acidentes seriam impossíveis. Não seria preciso este engenheiro, este mecânico, para vigiar a máquina, para a dirigir, para a reparar, para a afinar, enfim. Não, este engenheiro seria inútil, este mecânico não teria razão de ser.
E, neste caso, o Deus-Governador era também inútil. Se o Governador existe, é porque a sua intervenção, a sua vigilância são indispensáveis. A necessidade do Governador é como que um insulto, como um desafio lançado ao Criador; a sua intervenção corrobora o desconhecimento, a incapacidade, a impotência desse criador.
O Deus-Governador nega a perfeição do Deus-Criador.
Fonte: http://ateus.net/artigos/critica/doze-provas-da-inexistencia-de-deus/
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